sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Contágio

SE O VÍRUS NÃO TE MATAR, O CANSAÇO CERTAMENTE IRÁ

> Mais um filme de apocalipse. Outra versão do fim do mundo. Já vi filmes assim. Estes foram alguns dos pensamentos que percorreram minha cabeça assim que fiquei sabendo sobre Contágio. E é exatamente o que acontece. Embora o enredo já seja conhecido, com um novo vírus, a inexistência de vacinas, e estudos fracassados, a forma como o diretor Steven Soderbergh conduz o caos instaurado nas maiores cidade do mundo dá ao filme um ritmo totalmente novo.

> A ideia foi fazer um filme aplicado em nosso novo cenário mundial. Temos vídeos se espalhando no Youtube, notícias sem credibilidade se disseminando no Twitter, blogs, e a crítica de um webjornalista sobre o caminho da imprensa, o jornal impresso está morrendo. Neste mundo atual, com cidades de milhões de habitantes, Soderbergh aborda toda uma trajetória que leva à desordem. Ao contrário de muitos filmes em que o protagonista já acorda no fim do mundo, Contágio tem uma narrativa que mostra o antes, o durante e o depois.

> As diferentes esferas nas quais o filme se passa também é ponto positivo. Temos os pesquisadores, a mídia e é claro, a família ordinária. Nas personagens encontramos um grupo de estrelas, os atores reunidos elevam naturalmente a qualidade do longa, temos nomes como o eterno Bourne, Matt Damon, Gwyneth Paltrow, Laurence Fishburne, Kate Winslet, Jude Law e Marion Cotillard.

> As esferas são basicamente três e se cruzam de maneira muito sutil. Acompanhamos as instituições públicas, concentradas nos médicos e epidemiologistas, o cidadão comum, representado pelos pais de família e, ligando os dois âmbitos tão distintos, temos obviamente a mídia no papel de um blogueiro e repórter investigativo.

> O filme mostra o rápido avanço do vírus mortal valendo-se da estrutura de passagem dos dias. Apesar de se saber que tudo começa misteriosamente na Ásia, o longa inicia no segundo dia de infecção com o chamado “Paciente Zero”. Em pouco mais de uma semana são 260 mil infectados e em 12 dias já são oito milhões. A história se estende por pouco mais de 130 dias e deixa o desfecho obviamente para a última cena, quando você já espera há muito saber o que acontece no primeiro dia de infecção.

> Os dados são impressionantes. A forma de contágio, mostrada magistralmente ainda no trailer, se dá não apenas pela via respiratória, mas também pelo contato. São as chamadas fômites, transmissões através de superfícies lisas. Uma pessoa toca o rosto de duas a três mil vezes por dia, 3 a 5 vezes por minuto, e nesse meio tempo encostas em maçanetas, copos, botões de elevadores e também em outras pessoas.

> Assustadora também é a taxa de reprodução do vírus. Enquanto na gripe comum cada pessoa infectada transmite o vírus para apenas outra, e a varíola para três, o vírus de Contágio é transmitido para quatro novas pessoas por cada infectada.

> Em meio a isso tudo ainda há espaço para críticas ao adultério e, claro, à avareza. No caminho para uma cura as grandes nações passam a trabalhar secretamente com o intuito de descobrir um antídoto antes dos outros países e com isso lucrar sobre um vírus que pode matar mais de 20 milhões de pessoas.

> O ponto baixo do filme é a filmagem. O enquadramento seco e distante lembra até mesmo filmes antigos, onde são usados poucos equipamentos e ângulos pobres, tornando-o cansativo. Soderbergh faz isso propositalmente. A intenção é valorizar os momentos mais dramáticos, quando se permite um close em rostos e olhos. Fora isso, a imagem aproximada é usada apenas para evidenciar as áreas de toque e transmissão do vírus, passando de mão, para copo, para botões, tudo sempre acompanhado de um fundo musical.

> Apesar de ser uma história antiga abordada de maneira original, Contágio não é surpreendente e fica muito aquém daquilo que seu elenco de estrelas e trailer instigante prometeram. Torna-se, no final das contas, de apenas mais um filme sobre epidemia.

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