sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sem Limites

O QUE VOCÊ VAI FAZER QUANDO ACABAR?

> Imagine-se lendo A Ilíada em 45 minutos. Imagine ser capaz de escrever um livro de 800 páginas em quatro dias. Pense como seria compreender a bolsa de valores de maneira a quintuplicar sua fortuna em apenas dois dias. Pense como seria poder aplicar na prática tudo aquilo que você aprendeu assistindo filmes do Bruce Lee. Considere-se capaz de aprender qualquer língua no mundo apenas por ouvir algumas horas de áudios. Transforme-se no novo Houdini, seja um profeta dos tempos modernos, seja Deus. E agora se pergunte: o que você irá fazer quando tudo isso acabar?

> Totalmente despretensioso, Sem Limites tem elementos já conhecidos e outros ainda um pouco inovadores para criar um nível de entretenimento incrivelmente acelerado. A conectividade das cenas em que acompanhamos o escritor fracassado Eddie Morra, interpretador primorosamente por Bradley Cooper, faz o filme passar de um capítulo ao outro rapidamente, proporcionando ao telespectador a sensação de desejo pelo desfecho, pelas respostas, o anseio por tomar mais uma dose e seguir em frente, desenfreado.

> A ideia inicial é um tremendo clichê, mas foi utilizada genialmente no filme de Neil Burger, o diretor que transformou Edward Norton no Ilusionista. A mesma explicação de sempre, nós humanos podemos utilizar apenas 20% de nosso cérebro - alguns filmes optam por dizer cinco ou dez – mas ao tomar a pílula NZT você passa a ter acesso a todo o seu potencial. Não é uma droga que lhe torna inteligente, mas lhe permite utilizar toda sua capacidade mental e toda e qualquer informação que um dia já tenha estado ali, ou seja, vai funcionar melhor se você já for inteligente desde o início.

> Para Eddie Morra foi essencial. Um escritor de contrato assinado morando em um chiqueiro e sem criatividade. Com quatro pílulas e quatro dias ele escreve sua obra-prima. É claro que o enredo do filme não está apenas no sucesso do novo viciado na droga da inteligência. À medida que Morra se torna inteligente, passa a chamar atenção, ganhar propostas e empregos e levantar suspeitas de como conseguiu realizar tamanhas proezas.

> Logo, Eddie está mergulhado em universo de narcóticos e lutando contra a traficantes e políticos para disputar a dose do dia seguinte. A droga começa a consumi-lo e os efeitos colaterais aparecem. E aí o espectador se nota viciado, também quer mais uma pílula.

> O filme de Burger intercala estilos de imagem. Enquanto Eddie está sob o efeito do NZT, a imagem é limpa, colorida, com contraste altamente elevado e tons quentes. Quando está sóbrio, fica doente e a imagem desbota, fica sem vida e passa para tons frios. O aspecto faz os olhos de quem assiste ansiarem pelas cores, da mesma forma que Eddie pela pílula.

> O filme ainda se vale de elementos comuns, como a presença de um narrador em primeira pessoa, o próprio Eddie se apresenta ao espectador no velho estilo de “Este atravessando a rua, sou eu”. E o clássico ‘começo pelo meio’, a primeira cena mostra o escritor moribundo tremendo de abstinência tentando se jogar da beira de um prédio, então você descobre como ele foi para lá, e em seguida passa a tentar adivinhar o desfecho.

> As tomadas de quando a droga é ingerida também merecem destaque positivo, apesar de cansarem os olhos, o efeito “Inception” é bem utilizado, a câmera passa em alta velocidade pelos lugares gerando um gigantesco rastro de luzes, uma bela visão da cidade de Nova Iorque.

> A união de elementos novos e velhos, com uma ideia nem tão inovadora assim culminaram em um filme genial. Sem Limites entra para a prateleira dos filmes inteligentes disputando lugar a tapas com A Origem e Matrix. O longa mostra nossa natureza, nosso instinto de jamais estarmos satisfeitos, e sempre querer mais, mais e mais. A pergunta que fica é: já pensou o que vai fazer quando alcançar seus anseios, já pensou o que vai fazer quando seu fôlego acabar?


Publicado na edição 065 do jornal Manchete do Vale de Itajaí em 21 de outubro de 2011

Um comentário:

  1. eu adorei o filme, acheo sensacional. grande parte disso vai pelo visual que achei fanástico.

    tem alguns furos no roteiro como aquele assassinato mal explicado, mas eu gostei =)

    p.s.: muuuito massa o modo como vc faz/escreve suas críticas!

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