sexta-feira, 18 de novembro de 2011

The Runaways

Drogas, sensualidade, rock e uma interpretação avassaladora de Fanning e Stewart

> Anos 70. Elvis e Priscila estão divorciados, o presidente é um canalha e as donas de casa conversam com plantas. Homens não gostam de ver mulheres em nenhum lugar com exceção da cozinha e abaixadas sobre os joelhos, quanto mais em um palco segurando guitarras. Em meio a um antro de homossexualidade, drogas e uma sociedade com a mentalidade de uma velha careta, Joan Jett resolve formar uma banda apenas de garotas para tocar Rock n´Roll.

> Ao som de Do you wanna touch me, de Gary Glitter, que não muitos anos depois seria regravado por Joan, a morena durona que ainda atendia pelo nome Larkin tropeça em Kim Fowley, um adestrador de bandas de corpo fechado, o mesmo cara que anos depois seria produtor de Helen Reddy, Alice Cooper e da banda Kiss. O Rei da Histeria é o sortudo que pôde ouvir pela primeira vez a promessa da banda The Runaways.

> O único trabalho de Floria Sigismondi como diretora é digno de elogios. O ambiente com palavrões e músicas da década de 70 criou o perfeito cenário para elevar as atuações de Dakota Fanning e Kristen Stewart ao limite. Desde Silêncio de Melinda não testemunhava um bom trabalho de Stewart, aprisionada em uma realidade de depressão e vampiros da saga Crepúsculo. Quanto a Dakota, não lhe havia sido apresentado nenhum papel de valor para que pudesse demonstrar tamanha graça quanto a que assistíamos quando ela ainda era uma criança.

> O filme não tem meias palavras. A cena de abertura é a primeira menstruação de Cherie ao som da letra depravada de Roxy Roller. Reclamando da vida, de seu corpo, das atitudes da irmã e da mãe consumista que não dá a mínima para as filhas. Ao contrário da garota insatisfeita, Joan Larkin é mais decidida, somos apresentados a uma morena de cabelo repicado escolhendo roupas na repartição masculina. Com alguns quilos de moedas ela compra sua primeira jaqueta de couro, e no decorrer da história podemos ouvir na trilha sonora as principais musicas da banda antes que fossem compostas.

> Tão logo Jett é apresentada à baterista Sandy West a banda se forma. Cherie entra, inicialmente, apenas como o rostinho bonito da banda, mas logo recebe o incentivo que precisava, incitada a cantar com a angústia de ter “pego a irmã transando com seu namorado na cama de sua mãe”, discurso de Fowley, um trabalho primoroso de Michael Shannon com seus discursos, roupas e maquiagens.

> A ideia não é o clichê de um sonho americano. Não é pelo dinheiro ou pelo sexo. São garotas de 15 e 16 anos fazendo rock. Reescrevendo a balada do diabo e tirando os garotos para dançar. Quando o sucesso chega e a turnê parte para o Japão, Cherie Currie, a vocalista loira interpretada por Dakota, já atende pelo nome de Cherry Bomb e entope o nariz de cocaína.

> O grande destaque vai para a recriação dos trabalhos nos palcos. A turnê pelo Japão rende uma nova versão de Cherrie Bomb explorada até os limites pela produção e interpretação de Dakota Fanning, a ousadia de cantar de lingerie frente a adolescentes e lares japoneses.

> O ponto baixo do filme fica em seu desfecho. Tão bem o filme decola, a ruína aparece. Os problemas internos da banda, que jamais foram escondidos da mídia, são tratados de maneira leviana, e quando chega o momento da separação, e todos sabíamos que chegaria, tudo ocorre muito rápido e o filme acaba. Talvez a participação de Joan Jeat na produção do filme e a falta de experiência da diretora de clipes musicais em trabalhar com cinema, tenham sido fatores que prejudicaram o desfecho de uma história primorosa.

> Assim, as garotas que poderiam ter dominado o mundo abandonam os palcos pelas mesmas razões que destroem qualquer banda de rock, o uso abusivo de drogas, o egocentrismo exacerbado, geralmente do vocalista, e os desentendimentos entre os membros da equipe. The Runaways sai de cena, mas deixa muito claro a quebra de paradigmas. Garotas podem sim, tocar guitarra elétrica.

Publicado na edição 069 do jornal Manchete do Vale de Itajaí em 18 de novembro de 2011

Um comentário:

  1. Ah que bom que você gostou. O filme não foi lá muito bem aceito pela crítica, mas eu gostei bastante. É um trabalho bem feito e que merece ser visto!

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