sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Cowboys & Aliens

SE DE BOAS INTENÇÕES FOSSE FEITO O MUNDO...



> A ideia era ótima, mas convenhamos: tinha tudo para dar errado. Cowboys & Aliens. Inovador para o cinema, um exemplo de pioneirismo, um ato de coragem. Os comentários não conseguem exaltar o novo filme de Jon Favreau, apenas analisam o quão bem ele se saiu apesar do desafio. Eu vou ser um pouco mais direto. Não deu certo.

> A mescla de dois gêneros, um desgastado e praticamente morto comercialmente, outro no ápice das bilheterias, conseguiu apenas se manter dentro do óbvio das fusões: o meio termo. Nem lento e envolvente o suficiente para ser um bom faroeste, tão pouco empolgante e enérgico como as ficções cientificas, Cowboys & Aliens quebra o deleite das extensas cenas e silêncios ensurdecedores do Velho Oeste e cria ambientestediosos demais para um enredo alienígena.

> O formato da primeira cena revela-se um tremendo clichê, mas devo confessar que esses primeiros segundos conseguiram me iludir. Temos o habitual forasteiro sem nome, interpretado pelo perfeito rosto cowboy de Daniel Craig, acordando no meio do deserto e, como já esperado, sem memória, igual aos já conhecidos filmes de alienígenas. Ele derrota três agressores com as mãos nuas e lhes toma roupas e montaria, o ótimo herói que o público gosta e repudia ao mesmo tempo. Claro que devo fazer menção ao bracelete de metal preso em seu pulso, propositadamente fora de contexto, ao menos do faroeste.

O Coronel, o ouro e a Espaçonave

> Estava tudo lá. Os elementos mais característicos do Velho Oeste, os índios, o saloon, o violino, os ladrões e o homem de fé. A eterna procura pelo ouro ainda é mantida, uma das razões da permanência dos alienígenas no planeta. Cowboys & Aliens também leva a assinatura de Steven Spielberg, mas... o que se pode dizer? Nem tudo que reluz é ouro.

> A história se passa no Arizona, na desértica cidade de Absolution. Craig é o anti-herói sem nome e sem lembrança que logo arruma larga disputa de ego com o intransigente Coronel Dolarhyde, outro perfeito cowboy interpretado por Harrison Ford, dono da impactante frase: “ninguém me chama de Coronel. Ao menos ninguém que continue vivendo”.

> Poucas horas após a chegada do forasteiro, a cidade é atacada por saqueadores do espaço. Os extraterrestres avançam com luzes e cabos de metal abduzindo moradores com velocidade insana, os aliens desafiam tudo o que os residentes acreditavam saber sobre a realidade.

> Na luta, claramente desleal, as únicas armas disponíveis contra as tecnológicas aeronaves são lanças, flechas e algumas balas disparadas por velhas Colts. Isso até o pistoleiro sem nome descobrir que seu gigante bracelete dispara raios lasers. Dali para frente o filme começa a se dividir em capítulos, ora pendendo para o lado alien e ora para o terreno de chão batido.

> Olivia Wilde é a donzela que, ao menos por um tempo, disputa espaço nos pensamentos do protagonista com a memória da amada. A lógica do modelo faroeste é quebrada abruptamente pela personagem de Olivia, talvez a melhor transição de Velho Oeste para o enredo alienígena em todo o filme.

> Cowboys & Aliens nasce da fonte preferida de Hollywood, as Graphic Novels, e é dirigida pela mente que transformou Robert Downey Jr no Homem de Ferro. É um filme que surpreende pelo modelo que trabalha, uma inovação notável já no título, mas reúne os elementos mais desgastados de ambos os gêneros. O resultado foi o melhor que se podia esperar porque simplesmente não havia como fazer de outro jeito. Em suma, um filme para se olhar apenas uma vez.

Publicado na edição 060 do jornal Manchete do Vale de Itajaí em 16 de setembro de 2011

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