sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Californication

HANK MOODY, O PERFEITO EXEMPLO A NUNCA SER SEGUIDO

> Não é preciso assistir muito para descobrir de que se trata e como a história se desenvolverá em Californication. Arriscaria dizer que os primeiros quarenta minutos são suficientes. O singular desta série está em até onde os erros de um homem podem conduzi-lo rumo ao fundo do poço, e maior que isso, do quão pouco é preciso para ser feliz.

> Hank Moody é interpretado por David Duchovny. É preciso salientar o quanto é bom ver Duchovny de volta à ação em um papel que consegue se sentir à vontade. Desde que interpretou o agente Mulder, em Arquivo X, o ator não havia encontrado um trabalho à sua altura.

> A série se passa em Los Angeles, na Califórnia. Mais especificamente em Venice, o bairro conhecido por seus valores ocultos. Sexo, bebida, drogas, mulheres. Hank Moody é um escritor de mão cheia, tem uma facilidade impressionante para transportar os acontecimentos de sua vida para as páginas em branco, mas conforme sua vida se deteriora seu talento também é jogado privada abaixo.

> O drama envolve não apenas o escritor, mas também as mulheres de sua vida. Em alguns momentos parece que Tom Kapinos, o criador da série, testa a paciência de seus expectadores. Na primeira das cinco temporadas que compões a série, Moody dorme com duas, três, quatro, às vezes mais, mulheres por episódio.

> A linha do tempo do seriado é algo que merece elogios. Californication é formado por temporadas de doze episódios de aproximadamente 30 minutos cada, eles são exibidos na televisão separadamente, uma vez por semana ao longo de três meses com nove de folga. Este espaço de um ano é obedecido no enredo, e suas personagens e épocas envelhecem e se atualizam.

> Apesar de Californication encantar um público que gosta de humor ácido, ponto forte de seu protagonista, não deixa de ser um cumulativo de clichês e elementos sexuais desgastados. As cenas de abertura de cada uma das temporadas são trabalhadas exaustivamente de maneira a demonstrar em não mais de quatro minutos o perfil daquilo que se pretende. Temos o corriqueiro adultério, uma freira assanhada, um término de relacionamento aos gritos e até mesmo uma sonequinha em meio ao sexo. Fora isso, a série merece elogios à pesada crítica que faz à pedofilia, fio condutor da série durante seus quatro primeiros anos.

> Moody é apaixonado pela loira que conheceu no colegial. A família dela obviamente jamais aceitou o jovem roqueiro e drogado que dirigia em alta velocidade, mas eles ficaram juntos mesmo assim. Em uma manhã chuvosa, enquanto o noticiário informa sobre a morte de Kurt Cobain, Karen avisa ao namorado que está grávida.

> Em meio aos enganos de sua vida, Moody percebe que fica feliz por se tornar pai apenas quando a filha já está perto de atingir a adolescência. Rebeca, Becca, torna-se sua melhor amiga, confidente e até mesmo conselheira. Uma garota roqueira com grandes opiniões sociológicas que sonha em manter os pais unidos e em muitos momentos parece se tornar a consciência da série.

> Grande destaque também para as atuações perfeitas e hilariantes de Evan Handler, o agente inconsequente da UTK que se masturba nos escritório e atravessa a épica jornada de transar com 100 mulheres para alcançar sua paz de espírito. Outra surpresa fica a encargo de Madeline Zima. Sua interpretação não é primorosa, mas é realmente chocante ver a mudança radical na linda menininha de A mão que balança o berço.

> Californication é em sua essência uma grande crítica aos piores elementos de uma vida sem escrúpulos. Mescla os anseios da adolescência às responsabilidades da vida adulta em um protagonista que não está pronto para nenhum dos dois. O erro de Kapinos é mostrar isso abertamente e livre de qualquer censura, sua obra torna-se, em momentos, muito mais parecida com um filme de pornografia do que com uma criação com cunho sociológico. No mais a série é inteligente e recheada de cenas emocionantes, o enredo é criativo e, mesmo que às vezes pareça piegas, não se repete. Sempre há algo para ser explorado em Californication.

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