> Eu devia estar com seis ou sete anos quando assisti Ataque dos Vermes Malditos pela primeira vez. Lembro de meu primo ter uma fita VHS do filme que o pai dele ganhara em uma espécie de raspadinha de um boteco qualquer. Tínhamos a mesma idade e re-assistimos aquele longa-metragem dúzias de vezes. Quase vinte anos depois não tenho mais medo dos Graboids, mas preciso confessar que nos primeiros segundos após terminar de rever os filmes para escrever este texto, senti um receio de pôr meus pés no chão.
> Para quem não conhece a franquia, os Graboids são uma espécie de minhoca gigante jurássica que ataca através das ondas sonoras emitidas no solo, ou seja, quando você faz barulho. Acredito que seja fácil imaginar duas crianças sentadas de lados opostos do sofá com as pernas encolhidas para não tocar o chão e silenciadas pelo medo de serem tragadas para baixo da terra.
> Ataque dos Vermes Malditos (Tremors) é de 1990 e traz Kevin Bacon no elenco, talvez não como seu herói favorito, mas ainda assim um protagonista. Os monstros subterrâneos fizeram sucesso, prolongaram a história por mais três longas e uma série de televisão com 13 episódios um tanto quanto controversa, que foi cancelada na metade.
De terror não tem nada
> A ideia era fazer tudo da maneira mais simples possível. As personagens são poucas, os cenários não passam de largos campos e as paredes das casas de madeira não quebram, simplesmente caem. Muitas vezes já defendi produções antigas e efeitos especiais fracos devido a sua época de exibição e o baixo nível de tais efeitos. Mas o terceiro longa foi produzido em uma época pós-Matrix e as artes visuais continuaram fracos, a conclusão é que tudo isso tenha sido feito propositalmente.
> Apesar de ter me assustado quando era criança, não acredito que o intuito de Tremors fosse esse. A classificação “terror” estava estampada na caixa da fita VHS, mas naquela época eu desconhecia o termo trash. O filme é mal feito, concordo, mas é mal feito de propósito. E aí nasce a pergunta para os admiradores do gênero: como uma história tão simples, com um elenco tão fraco, consegue tamanho sucesso e investimento da Universal Studios, mesma empresa que hoje tem em Velozes e Furiosos uma das franquias mais lucrativas de todos os tempos?
Graboids, Shriekers e... Bundas explosivas?
> A cada cena o espectador se convence de que não se trata de um terror sério. E a cada filme fica mais claro de que tudo apenas tende a piorar. Uma cena foi crucial para classificar Ataque dos Vermes Malditos como um filme trash. Trata-se do momento em que a minhoca gigante apavora alguns dos moradores de Perfection, cidade onde a trama se desenrola, e começa
a rir do desespero de suas vítimas. Uma minhoca gigante soltando guinchos agudos como se desse gargalhadas, uma cena que divide a reação do espectador entre riso e decepção.
> No segundo filme somos apresentados aos Shriekers, segundo estágio de evolução dos Graboids. Nesta etapa eles não atacam pelo som, mas pelo calor dos corpos de suas vítimas. Até aí tudo bem, a franquia suspirava um pouco e tomava fôlego para continuar. Mas então gravaram um terceiro filme. O diretor Ron Underwood inventa um novo estágio da evolução, e o nome não poderia ser outro: Ass-blasters. Sim, Bundas explosivas.
> Apesar das denominações esquisitas e personagens estereotipados, a trilogia mantém algumas partes do elenco e é fiel à ordem cronologia e história principal, o quarto filme, O Começo da Lenda, funciona como uma prequela, contando os ocorridos antes do primeiro, e a série de televisão dá sequência ao testemunhado no terceiro capítulo.
> A recomendação fica apenas a título de curiosidade, não se pode esperar uma grande produção nem atuações perfeitas. Ataque dos vermes Malditos é um bom filme ruim, que na pior das hipóteses proporciona ao espectador a peculiar reação de rir durante uma sessão de terror.
Publicado na edição 059 do jornal Manchete do Vale de Itajaí em 09 de setembro de 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário