> O que acontece quando as emoções te cegam? Quando aquilo em que se acredita é tão forte, tão real e convincente que não importa quem lhe diga o contrário, será ignorado. Mesmo que os fatos estejam ali, diante de seus olhos. O que você faz? Você continua a acreditar em si? Você ainda confia em seu próprio julgamento? Ou será que em algum momento, algo ou alguém ludibriou seu mundo?
> Volleygirl13 é o nickname de Annie em uma sala de bate papo. Ali ela conhece chRLeeCA, Charlie, que assim como ela, não utiliza foto em seu perfil e tampouco seu verdadeiro nome. Conversando apenas através do computador ou do celular, tudo o que se pode fazer é confiar. Acreditar que a idade é real, que o nome é o de batismo, as fotos são verdadeiras. Em uma família aparentemente perfeita de uma sociedade evoluída e inteligente, confiar em pessoas que nem ao menos conhecemos torna-se um pouco irônico. Mas nem tanto.
> Confiar foi ainda melhor do que a promessa. O filme do antigo Friends, David Schwimmer, foi fundo nas questões das redes sociais. Mas não apenas por isso, longe da obviedade de apresentar os perigos do mundo virtual, o filme apresenta o drama da família, e principalmente do pai que se vê totalmente incapacitado de exercer sua função, proteger a filha.
> Annie é interpretada magistralmente por Liana Liberato, em várias cenas a atriz mirim surpreende e encarna com perfeição a personagem que muda violentamente o semblante durante o filme. A atuação de Liana em nada perde para os veteranos do drama Clive Owen e Viola Davis.
> A garotinha ganha um computador em seu 14º aniversário. Não demora muito para se conectar às redes sociais e por meio delas fazer amigos. Annie vive em um mundo perfeito aos olhos dos vizinhos, sua educação é exemplar, faz parte do time de vôlei da escola, o irmão mais velho ingressa na faculdade, seus pais são bem sucedidos, a casa é grande e a relação com a irmã caçula é uma graça. Mas, em meio a toda essa perfeição, ela se sente sozinha.
> O trabalho do pai o esgota e deixa-o distante. Ela não faz parte do grupinho de meninas populares da escola, seu irmão e confidente muda de cidade, e até mesmo a mãe parece não compreendê-la. Aí entra Charlie, ou este é nome que ela acredita ser o dele. Em sua fragilidade emocional ela se torna alvo fácil para as artimanhas daquele garoto que confessa não ter 16 anos, mas 20, depois 25. E um pouco mais tarde, quando se encontram às escondidas, 35 anos de idade.
> De início a situação parece óbvia. Annie deveria fugir, ligar para os pais. Mas essa não é a reação dela. Charlie a compreende, incentiva, lhe chama repetidas vezes de linda. Ela cede, entra em seu carro, e sem ao menos perceber, experimenta sua primeira lingerie, presente daquele que há dois meses estava cheio de más intenções.
> As cenas são de tirar o fôlego. O filme acelera e não perde o ritmo na sucessão de acontecimentos. Annie é estuprada. Mas não enxerga dessa maneira, ela acredita ter perdido a virgindade com o homem que ama. O caso ganha proporções incontroláveis e o FBI é acionado. Vivendo em um mundo onde as regras lhe parecem claras, Annie é levada ao limite de suas emoções para encontrar a verdade.
> Maior que sua frustração, é apenas a incapacidade de seu pai, Will, em tomar uma atitude. Clive Owen, como sempre, é impecável, e externa toda a angústia que o telespectador compartilha, a vontade de fazer justiça com as próprias mãos e se ver cercado por leis e agredido pela própria filha, que se apega ao homem que a violentou. Sem condições de um final feliz, o desfecho é tão bonito quanto revoltante, e a angústia é levada para casa junto com o espectador.
> Confiar é o drama cinematográfico mais crítico do ano. Rompendo as barreiras dos clichês para problemas sociais, ele se torna quase tão real quanto documentários, mas sem ser maçante. A obra de Schwimmer serve tanto para entretenimento quanto para orientação, e sem dúvida merece se apreciada.
Publicado na edição 066 do jornal Manchete do Vale de Itajaí em 28 de outubro de 2011
me impressionei demais com ese filme. atuaçoes no ponto certo e a direção, claro, é a maior surpresa.
ResponderExcluirmuito bom!