sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Confi@r

EMOÇÕES À FLOR DA PELE


> O que acontece quando as emoções te cegam? Quando aquilo em que se acredita é tão forte, tão real e convincente que não importa quem lhe diga o contrário, será ignorado. Mesmo que os fatos estejam ali, diante de seus olhos. O que você faz? Você continua a acreditar em si? Você ainda confia em seu próprio julgamento? Ou será que em algum momento, algo ou alguém ludibriou seu mundo?

> Volleygirl13 é o nickname de Annie em uma sala de bate papo. Ali ela conhece chRLeeCA, Charlie, que assim como ela, não utiliza foto em seu perfil e tampouco seu verdadeiro nome. Conversando apenas através do computador ou do celular, tudo o que se pode fazer é confiar. Acreditar que a idade é real, que o nome é o de batismo, as fotos são verdadeiras. Em uma família aparentemente perfeita de uma sociedade evoluída e inteligente, confiar em pessoas que nem ao menos conhecemos torna-se um pouco irônico. Mas nem tanto.

> Confiar foi ainda melhor do que a promessa. O filme do antigo Friends, David Schwimmer, foi fundo nas questões das redes sociais. Mas não apenas por isso, longe da obviedade de apresentar os perigos do mundo virtual, o filme apresenta o drama da família, e principalmente do pai que se vê totalmente incapacitado de exercer sua função, proteger a filha.

> Annie é interpretada magistralmente por Liana Liberato, em várias cenas a atriz mirim surpreende e encarna com perfeição a personagem que muda violentamente o semblante durante o filme. A atuação de Liana em nada perde para os veteranos do drama Clive Owen e Viola Davis.

> A garotinha ganha um computador em seu 14º aniversário. Não demora muito para se conectar às redes sociais e por meio delas fazer amigos. Annie vive em um mundo perfeito aos olhos dos vizinhos, sua educação é exemplar, faz parte do time de vôlei da escola, o irmão mais velho ingressa na faculdade, seus pais são bem sucedidos, a casa é grande e a relação com a irmã caçula é uma graça. Mas, em meio a toda essa perfeição, ela se sente sozinha.

> O trabalho do pai o esgota e deixa-o distante. Ela não faz parte do grupinho de meninas populares da escola, seu irmão e confidente muda de cidade, e até mesmo a mãe parece não compreendê-la. Aí entra Charlie, ou este é nome que ela acredita ser o dele. Em sua fragilidade emocional ela se torna alvo fácil para as artimanhas daquele garoto que confessa não ter 16 anos, mas 20, depois 25. E um pouco mais tarde, quando se encontram às escondidas, 35 anos de idade.

> De início a situação parece óbvia. Annie deveria fugir, ligar para os pais. Mas essa não é a reação dela. Charlie a compreende, incentiva, lhe chama repetidas vezes de linda. Ela cede, entra em seu carro, e sem ao menos perceber, experimenta sua primeira lingerie, presente daquele que há dois meses estava cheio de más intenções.

> As cenas são de tirar o fôlego. O filme acelera e não perde o ritmo na sucessão de acontecimentos. Annie é estuprada. Mas não enxerga dessa maneira, ela acredita ter perdido a virgindade com o homem que ama. O caso ganha proporções incontroláveis e o FBI é acionado. Vivendo em um mundo onde as regras lhe parecem claras, Annie é levada ao limite de suas emoções para encontrar a verdade.

> Maior que sua frustração, é apenas a incapacidade de seu pai, Will, em tomar uma atitude. Clive Owen, como sempre, é impecável, e externa toda a angústia que o telespectador compartilha, a vontade de fazer justiça com as próprias mãos e se ver cercado por leis e agredido pela própria filha, que se apega ao homem que a violentou. Sem condições de um final feliz, o desfecho é tão bonito quanto revoltante, e a angústia é levada para casa junto com o espectador.

> Confiar é o drama cinematográfico mais crítico do ano. Rompendo as barreiras dos clichês para problemas sociais, ele se torna quase tão real quanto documentários, mas sem ser maçante. A obra de Schwimmer serve tanto para entretenimento quanto para orientação, e sem dúvida merece se apreciada.


Publicado na edição 066 do jornal Manchete do Vale de Itajaí em 28 de outubro de 2011

Um comentário:

  1. me impressionei demais com ese filme. atuaçoes no ponto certo e a direção, claro, é a maior surpresa.

    muito bom!

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