sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Spartacus - Sangue e Areia


> A cena se repete toda vez que novos recrutas chegam à Casa de Batiatus. Oenomaus, o Doctore criador de gladiadores, faz a pergunta: “o que está sob seus pés?” Pisando na areia do Ludus, pátio da casa grande usado como área de treino, a resposta esperada é proferida pelo campeão de Cápua, principal cidade a abrigar os sangrentos jogos romanos. “Solo sagrado, Doctore. Banhado em sangue e lágrimas”. Seguida das palavras do melhor dos guerreiros, o mestre dos gladiadores conclui o discurso de recepção aos novatos: “suas lágrimas, seu sangue, suas patéticas vidas forjadas em algo de valor. Escutem, aprendam, e talvez vivam.”

> O Ludus da Casa de Batiatus é um dos principais cenários da série Spartacus, onde é possível testemunhar a linha que separa homens de gladiadores. Joshua Donen e Samuel Raimi são os produtores da nova versão do escravo que se tornou gladiador, mais famosa anteriormente pelo filme de Stanley Kubrick que trazia Kirk Douglas no papel principal. Traição, sangue e revolução

> Apesar de haver algumas adaptações, a história é a mesma. Um soldado trácio, ao qual não somos privilegiados com o nome, desobedece às ordens de seu Legadus, comandante em batalha, e é acusado de traição, tendo a mulher tomada de seus braços e condenado à morte na Arena. O trácio sobrevive àquilo que deveria ser sua execução e liquida com a vida de quatro gladiadores perante um público sedento de sangue, dali em diante recebe o nome de Spartacus, lendário rei de seu povo.

> O enredo que se segue toma os rumos esperados, o homem livre se torna rebelde, o rebelde é escravizado, o escravo se torna gladiador e dá início à célebre revolução da Roma Antiga. A nova versão da história ganha elementos próprios e conta com efeitos visuais que por si só já lhe dão vantagem sobre o longa de Kubrick, ainda assim vale destacar que apesar de seguirem a mesma direção, tratam-se de obras distintas e independentes.

Efeitos

> Não apenas coincidência. A câmera lenta, o vermelho em excesso e a produção em Chroma Key são características de Sam Raimi, já vistas em A Noite dos Mortos-vivos e Homem Aranha. Inspirado também em 300, é difícil acreditar que não haja alguns conselhos de Frank Miller e Zack Snyder quando se fala de arte final.

> Para quem gosta de sangue e ver cabeças rolando, Spartacus é realmente um prato cheio. A série tenta ser o mais fiel possível aos costumes da época, ou ato imaginário deles, a luxúria e a cobiça estão impregnadas em cada cena, em que se pode ver pessoas transando tanto nos becos das ruas quanto nas escadarias da Arena. O homossexualismo é bem explorado e não dá folga para os conservadores nem poupa os olhos de quem acha que vai encontrar breves cenas de romance. Amor e fidelidade não são do conhecimento dos romanos de Spartacus.

> Para os mais críticos isso já pode não agradar. A multidão desfocada e a força do vento nas nuvens destoam do primeiro plano e deixam evidente o excesso de gravações em fundo verde. Mas o uso exacerbado do Chroma Key pode ser tolerado devido à linhagem da produção, que opta por trabalhar dessa maneira. O que entristece é que as falhas sejam encontradas em detalhes simples, como a qualidade do plano dentário dos gladiadores e escravos.

Sede de Sangue

> Percebi apenas ao final da luta, quando a cabeça do gigante foi arrancada pela espada de Spartacus e soltei um suspiro de alívio. Eu torcia pela morte do oponente, sem notar fiquei sedento por sangue, por ver os melhores dos melhores se enfrentarem sobre a areia. Ao longo dos 19 episódios a série tem a capacidade de despertar aquela parte bárbara do espectador, acordar aquele pequeno romano que está em nossa natureza pronto para viver o pecado assim que tiver uma chance.

Deus da Arena

> Spartacus está divida em duas temporadas, a primeira é intitulada Sangue e Areia (Blood and Sand) e traz Andy Whitfield no papel do gladiador. Ao final do primeiro arco, o ator principal foi diagnosticado com câncer e obrigado a interromper as filmagens. A incrível competência dos produtores levou a criação de uma pequena sequência de seis episódios nomeada Deuses da Arena (Gods Of Arena), que conta a história da ascensão da Casa de Batiatus cinco anos antes da chegada de Spartacus.

> O enredo é bem elaborado, dá aos espectadores o particular gostinho de se desfrutar de uma prequela e conhecer elementos do passado de personagens que já conquistaram o ânimo do público. Apesar dos esforços para manter Andy Whitfield no elenco, a série sofre com sua perda e a terceira temporada, Vengeance, estreia em janeiro com Liam McIntyre no papel do trácio. O elenco ainda conta com estrelas como Craig Parker (O Senhor dos Anéis), John Hannah (A Múmia), e Lucy Lawless (Xena).


Publicado na edição 057 do jornal Manchete do Vale de Itajaí em 26 de agosto de 2011

Um comentário:

  1. As versões sem censura e estendidas em blu-ray valem a pena: http://coisaslegais.net/2013/09/spartacus-blood-and-sand/

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